Como quantificar o grau de estresse ou de
tormentos que a sociedade nos causa com o trânsito, a violência, o clima, a
competição, etc., e qual é o percentual pessoal de problematizar a vida?
Trocando em miúdos, é a sociedade complexa que nos atormenta, ou nós nos
atormentamos com a sociedade? Obviamente as duas partes tem a sua quota de
elementos afligentes. Como não
podemos mudar o mundo, podemos mudar a nós mesmos, superando os melindres, as
crenças falsas, a baixa autoestima, etc.
Um rapaz procurou a psicoterapia angustiado,
triste, não queria mais sair de casa, ficava trancado em seu quarto o dia todo
escutando música. Os pais não sabiam mais o que fazer, pensavam que ele
estivesse usando drogas ou tinha alguma “doença mental.” Na terapia ele deu
voltas para falar do assunto que o afligia: os seus pés! Isso mesmo, os seus pés. Achava que seus pés eram grandes
demais, tinha vergonha que as pessoas olhassem para eles. Usava calças largas
ou a boca da calça mais larga para cobrir seus pés. Virou uma paranoia, ficava
monitorando os olhares dos outros, via o que não existia.
Essa cisma começou no ensino fundamental, onde é
comum a garotada colocar apelidos uns nos outros. Qualquer coisa diferente em
um colega é motivo para gozação: gordo, magro, alto, baixo, mãos grandes ou
pequenas, nariz grande ou pequeno, pés grandes ou pequenos, enfim, tudo é
motivo para chacota. Meu cliente não tinha os pés enormes, pela altura dele era
para calçar 42, e calçava 44, quase imperceptível por sua altura. O apelido de pezão pegou mais pelo incomodo do rapaz,
do que pelo tamanho do pé. O sentimento de inferioridade que alimentava
contribuiu para acatar as gozações como verdadeiras. Quando os amigos tiravam
sarro, ele ficava vermelho, paralisado, se sentindo pior como pessoa.
Quantos homens se sentem inadequados por causa da
barriga, da calvície, da profissão, da altura, etc., evitando o convívio social
ou até um relacionamento afetivo porque se acham inadequados?
As mulheres têm áreas pontuais de queixa: cabelos,
seios, bumbum, pernas, rugas, celulites e barriga.
Não são estas condições em si que causam o sofrimento
ou a falta de aceitação, mas o que se pensa delas. Uma pessoa “resolvida”, com
boa autoestima e autoconfiança não se limita, nem se paralisa se suas formas
não forem perfeitas. Por outro lado, uma criatura “perfeita nas formas”, com
baixa autoestima, insegura vai arranjar motivos para ser infeliz. Aqui cabe
ponderar também o nível de evolução de cada pessoa.
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