Na sessão de psicoterapia ele pedia para não
fechar a porta da sala, para não se sentir vulnerável. Mal conseguia falar,
respiração ofegante, assustado, dizia-se revoltado, mas não explicava o motivo.
Com vinte minutos de sessão, já queria ir embora, ele não conseguia ficar os
cinquenta minutos. Ele dizia que tinha algo muito importante para me falar, mas
não conseguia. Depois de algumas sessões, com muita ansiedade e falando pouco,
disse que em uma vida anterior eu o teria prejudicado, levando, em seguida, a
morte, por isso me procurou: para se vingar! Fiquei sem ação, o que? Perguntei:
- Como você sabe disso?
- Eu vi isso nos meus sonhos – disse ele!
Como psicólogo eu diria tratar-se de fantasias
dele, o sonho pode ser reflexos das preocupações do dia, desejos não realizados,
mas como Espírita sabemos que podem ser retrocognições, obsessão espiritual
(pesadelo), sonhos premonitórios e encontros espirituais. Como saber? Eu
não tenho percepções parapsíquicas ou mediunidade ostensiva para alcançar a
veracidade dos fatos, no entanto um misto de intuição (percepção pessoal) e de
inspiração (influência de meu mentor) indicava não ser verdadeiro o que o cliente
dizia. Nem sempre é possível desvendar o passado para segurança dos envolvidos,
a fim de não ficarem fantasiando coisas e caírem em auto-obsessão e também na
obsessão espiritual, onde o obsessor aproveita para incrementar mais as nossas
ilusões. Não que eu seja contra a informação mediúnica quando é útil ao
indivíduo, ou através da retrocognição que é um fenômeno anímico, humano,
natural que estamos desenvolvendo no processo evolutivo. Sou a favor, mas
precisamos separar a curiosidade doentia da informação útil, que vai ser
proveitosa para o crescimento do sujeito.
Agora compreendia o motivo de sua angústia e
embaraço em falar comigo. Pessoalmente nada sentia em relação a ele, nem
simpatia, nem aversão, que são indicadores de vínculos.
O cliente não apresentava nenhum comprometimento
psíquico grave, era um pouco isolado, trabalhava, havia estudado. Não parecia
ser um surto, tinha coerência em seu raciocínio quando conversávamos sobre
outras coisas. Cumpria o contrato terapêutico: dia e horário, pagamento, não
ligava desnecessariamente fora da sessão... Parecia ser uma obsessão
espiritual, havia momentos que ele tinha o olhar fixo em mim com um misto de
raiva e cordialidade!
Por conta da ameaça que me fez, da vingança, tive
que cancelar o tratamento. Por vias das dúvidas, encaminhei-o a um psiquiatra
para fazer uma avaliação, e, ao mesmo tempo, indiquei que procurasse um Centro Espírita
para verificar se estava obsediado.
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